O PAÍS DA ENCRENCA

 

A frase do título é do ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Segundo o dicionário Aurélio, Encrenca significa “1. Coisa ou situação difícil, complicada, perigosa. 2. Briga, desordem, conflito. 3. Intriga, enredo”. Onde ele quis nos encaixar?

Na segunda semana de dezembro de 2023, quando a Way foi convidada por jornalistas a participar das projeções para o Ibovespa de 2024, lembro-me que um deles me perguntou se não havia me enganado. Os 134 mil pontos que estimara era somente 4% a mais do que o valor que o índice se encontrava naquele momento, quase no encerramento do ano. “Não é pouco, não?”, incomodou-se o jornalista. Segue reportagem recente do Valor Investe que mostra essa situação a que me referi: https://valorinveste.globo.com/mercados/renda-variavel/bolsas-e-indices/noticia/2024/06/13/analistas-rebaixam-projecoes-para-o-ibovespa-bolsa-ainda-pode-subir-em-2024.ghtml.

Fazer projeções macroeconômicas, e sobretudo de variáveis mercado, é um desafio constante. Usamos econometria, muita estatística e alguns modelos de finanças consagrados. No final do texto vou deixar o link de um artigo, na minha coluna no Valor Investe, onde explico o modelo que adoto para projetar o Ibovespa e o porquê daqueles 134 mil pontos.

Esse 1º semestre de 2024 que está quase se encerrando foi péssimo para os ativos brasileiros. Quem apostou no país está encrencado!

Nossa moeda desaba 10% frente ao dólar e a curva de juros estressou como poucas vezes, com o rendimento real, aquele além do IPCA na NTN-B de 2045, atingindo quase 6,5%. Para completar o azedume, nossa bolsa apresentou o pior desempenho dentre os mais de vinte índices de ações que acompanho no mundo, com queda até aqui de mais de 10% (escrevo no dia 14 de junho, preços e estatísticas até essa data, ok?).

Todo esse comportamento adverso encontra motivos claros, que listo a seguir: 1) dúvidas sobre o quadro fiscal e o novo arcabouço; 2) dúvidas sobre o que esperar do novo banco central (BC), que emergirá após a saída de Roberto Campos Neto (RCN); 3) intensa saída de investidores estrangeiros da nossa bolsa (já são mais de U$ 8 bilhões de efluxo esse ano) e 4) política monetária americana menos favorável do que se imaginava lá atrás.

Sobre o novo arcabouço fiscal, que substituiu o “Teto dos Gastos “, o próprio governo o colocou em “xeque”, ao reduzir suas projeções e sinalizar contingenciamentos de despesas, que são pouco críveis. Nos últimos dias, o mercado passou a questionar, inclusive, se o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, não estaria sendo “fritado”, isolado dentro do próprio governo, lembrando a trajetória de Palocci, no Lula I, ou Levy, em Dilma.

Quanto ao BC, o PT vem bombardeando com frequência o presidente da instituição. Por exemplo, a presidente da sigla, a congressista Gleisi Hoffmann, afirma que RCN sabota o governo. Dessa forma, como ele vem promovendo um trabalho exitoso (ganhou o prêmio de melhor banqueiro central do ano), o mercado se inquieta e pergunta quem será o indicado por Lula para ocupar uma das mais importantes cadeiras da nação a partir de 2025.

Já no exterior, o FED não fará as seis ou sete reduções de juros que os analistas apostavam. Muitos investidores, que aqui estavam alocados, regressaram para surfar os juros que ficarão “higher for longer” por lá. A percepção é que será uma, ou no máximo duas reduções; e olhe lá!

Todavia, mesmo assim, as bolsas americanas apresentaram um comportamento extraordinário, com o Nasdaq em alta de 18% e o S&P 500 com 14%. Muito dessas altas foram puxadas por ações ligadas à inteligência artificial (IA), com destaque para Nvidia. As ações de empresa de chips já valem hoje mais do que o PIB da Alemanha e mais de duas vezes todo o valor das empresas negociadas na bolsa brasileira. Será que estamos diante de uma nova bolha no mercado acionário de lá, como no final do século XX? Para ficar no radar…

O fato é que o Brasil perdeu charme frente a um mundo mais dinâmico e competitivo. Discutimos “coisas menores”, como taxação de importados, impostos sobre heranças, compensações de PIS/COFINS, quase nada de cortes de gastos, enquanto o cenário econômico global está com IA e afins na cabeça, mesmo diante de um quadro geopolítico conturbado pelas diversas frentes de guerras em curso e das eleições americanas, que se aproximam.

Para encerrar, no segundo semestre enfrentaremos enormes desafios, especialmente porque as eleições municipais representam a antessala para 2026. Em outras palavras, a questão política vai dominar o dia a dia do país. Se ficarmos órfãos das âncoras fiscal e monetária teremos sérios problemas. Querendo ser otimista, contudo, se voltarmos a focar em uma situação fiscal mais equilibrada, sem surpresas, e equacionada a contento a nova diretoria do BC, creio que a poeira possa ir baixando gradativamente, o que levaria a alguma recuperação nos preços dos nossos ativos, que estão muito aviltados. Do contrário, seremos escanteados definitivamente do portfólio global e pagaremos com mais prêmio pelas nossas encrencas.

OBS: link para o texto mencionado acima.

https://valorinveste.globo.com/blogs/alexandre-espirito-santo/coluna/um-modelo-para-o-ibovespa.ghtml

Alexandre Espirito Santo, Economista-Chefe da Way Investimentos e prof. IBMEC-RJ

 

 

 

 

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